31.10.11

Experiência missionaria vivida por António Costa

Enfim tudo terminou, infelizmente! Depois de 15 dias a ver o trabalhar de Deus e a fazer parte desse mesmo trabalho, é tremendo! 
Senegal realmente precisa de ajuda em todos os pontos, mas o espiritual é o mais carente, é um povo de maioria (quase 100%) muçulmana, que tem mais temor ao Diabo do que a Deus e faz muitos sacrifícios. Durante a estadia lá, com o pouco tempo que tive, fui fazendo um diário.
Mas para quê? Perguntam alguns, é simples para poder me recordar de cada momento que lá vivi e de todas as experiências pelas quais passei. 

 Tudo começou a cerca de um ano atrás quando nossos irmãos missionários Paulo, Luciane e Miguel visitaram Portugal (Julho e Agosto de 2010), desde logo Deus tocou no meu coração e me comprometi em vir ao Senegal em 2011, para poder ter uma experiência missionária durante 15 dias. A Igreja Casa de Arão aprovou o projecto de maneira a que a oportunidade pudesse ser aberta a todos os irmãos da igreja, embora muitos não tivessem acreditado no projecto achando que não passava de mera “publicidade” algo que apenas iria ficar no papel. Algumas pessoas aprovaram a ideia e até mostraram entusiasmo, mas na primeira reunião marcada para delinear todas as condições da viagem tive uma surpresa, ninguém apareceu! Confesso que fiquei desanimado e até coloquei a em questão a concretização do projecto, percebi então que quando temos um sonho é difícil encontrar alguém para sonhar connosco, mas quando Deus tem um projecto para nossas vidas nem mesmo o desânimo pode impedir! Aos poucos foi percebendo que tudo o que estava acontecendo (todo o projecto) era apenas para o meu crescimento, talvez por isso, Deus permitiu que ninguém aparecesse naquela reunião.
 Deus me mostrou que não seria fácil, mas mostrou também o caminho certo para fazer tudo, com a grande ajuda dos missionários Paulo e Luciane, que me incentivaram e receberam em sua casa, agradeço desde já por esta oportunidade.



A três meses da viagem apenas tinha eu no projecto, porém a Léa (irmã de sangue do missionário Paulo) tinha o visto, porém estava desprovida financeiramente, pois tinha também a sua filha Pipa para vir então começamos a orar nesse propósito para que ambas pudessem me acompanhar nessa experiência missionária, e para Honra e Glória do Senhor as nossas orações foram ouvidas, conseguimos o dinheiro necessário para a viagem das duas.
 Antes da viagem a missionária Luciane enviou uma lista de material de enfermagem para ser utilizado no posto de saúde, que vai ser construído no village do Lac Rose. Era uma lista grande, mas Deus enviou pessoas para contribuir, começamos a arrecadar o material 1 mês antes da viagem e quando faltavam algumas horas para embarcarmos recebemos o que faltava para completar a lista. E como o Senhor não faz o trabalho por metade, a Royal Maroc Airline ofereceu uma mala extra para cada um de nós, pois era muito material e as malas a que tínhamos direito não chegavam.

Chegada a Senegal- Ao chegar foi um choque tanto de calor como cultural, filas intermináveis e um calor de 40°, isto, as 23H30, algo que nunca tinha visto! Para pegar as nossas malas, que não eram poucas (graças a Deus), demorou 2H pois a toda hora faltava luz e a esteira das malas não andava, quando chegamos a casa já era umas 02H00, embora já estivesse tarde, dormir era algo impensável com tanta euforia, ainda fomos ver as malas todas, que estavam repletas de bênção para os missionários, acabamos por ir dormir mais de 04H00 da manha.
 Na manhã seguinte (apenas com 2H de sono), logo as 06H00 da manha começa um barulho incrivelmente alto vindo das mesquitas a chamar os muçulmanos para a oração, e pensar em dormir mais um pouco era impossível com tanto barulho. 





Saímos para podermos nos ambientar e o choque cultural foi enorme, desde o “talho” se é que podemos chamar de talho onde a carne fica pendurada a secar ao sol sem nenhuma refrigeração ou algo semelhante, o peixe nas mesmas condições, ruas alagadas das chuvas, pois esta e a altura das chuvas, pessoas descalças e um transito infernal onde não a sinal algum, digno de um verdadeiro jogo de computador! As noites são quentes onde a salvação vem do ventilador, isto quando a luz, porque se faltar durante a noite entramos numa verdadeira sauna e temos de dormir com mosquiteiros caso contrário somos “comidos” pelos mosquitos (pernilongos, melgas e todo o mesmo).
2° Dia fomos ao centro de Dakar onde vimos o mercado mais tradicional mas com pouca diferença dos demais, o que nos chamou a atenção foi o trabalho artesanal feito em madeira pelos Senegaleses que e muito bonito e se torna num dos meios de subsistência deles a nível financeiro embora seja um pouco caro como todo aqui no Senegal desde a alimentação ao meios básicos de sobrevivência algo herdado dos seus colonizadores franceses.

3° Dia foi visitar um village e a BCS (escola para filhos de missionários), escola onde o Paulo e a Lucie andaram durante 3 anos como chefes de dormitório. No village podemos ter um contacto mais próximo da população, são amigos dos missionários locais o que tornou mais fácil a nossa interacção, comemos a comida típica deles dentro de um alguidar onde todos comemos com um garfo, isto por respeito a nós caso contrário comíamos com as mãos todos do mesmo alguidar, como fizeram as mulheres porque lá elas comem separadas dos homens. 
No fim do dia ainda deu tempo para passar no Bandia (reserva ambiental do Senegal), onde vimos algumas tartarugas, jacaré e demos de comida a alguns macacos que nos tentaram roubar o lanche :), para isso não acontecer acabamos por lhes oferecer pão. Ao regressar a casa demoramos cerca de 2h para fazer cerca de 70km, devido ao famoso transito de Dakar.
4° Dia fomos ate Lac rose (lago rosa), mas ate lá chegar e sempre uma pequena aventura de todo o terreno, por isso, DEUS abençoo os missionários com uma 4x4, porque ELE viu que era necessário para se poder continuar com a obra, tem de se atravessar autênticos lagos de lama e buracos que mais parecem crateras lunares a quando pensamos que já chegamos mais uma aventura chamada dunas de areia onde só mesmo um verdadeiro 4x4 pode entrar, 
depois de 1h de viagem e uns simples 50km percorridos chegamos ao lago rosa um village situado entre o lago e o mar um lugar simples sem luz e calmo esperando o trabalhar de DEUS em suas vidas, DEUS já começou a operar neste lugar com a construção da escola e com e chegada dos missionários Paulo, Luci e seu filho Miguel juntos tem conseguido maravilhas neste lugar praticamente 100% muçulmano já foram aceites pelo chefe do village e toda sua população que são cerca de 2000 habitantes divididos por 4 aldeias já lhes foi cedido um terreno para poderem construir sua casa onde tem uma arvore chamada de baoba que e a arvore sagrada deles onde um jovem chegou e disse que a árvore era a casa do diabo e que ele exigia que fizessem dois sacrifício, que derramassem no pé da árvore o sangue de um carneiro negro para o diabo, e o sangue de um carneiro branco para oferecer a população da aldeia.
O missionário Paulo explicou que aquele lugar agora pertencia ao Deus vivo e que se o diabo mandou recado é porque já não habita mais lá. Nos não fazemos nenhum tipo de sacrifício pois Deus já fez o sacrifício maior pela nossa vida mandando seu Único filho Jesus Cristo para morrer na cruz para que tivéssemos a vida Eterna. Desde então nunca mais nenhum habitante do lago rosa teve medo de chegar perto da árvore e agora as crianças brincam debaixo dela sempre que tem gente lá.
Durante o dia trabalhamos na futura casa dos missionários de maneira a podermos passar o próximo fim-de-semana lá, colocamos as madeiras de suporte e endireitamos o chão dos cómodos para podermos colocar o cimento. Isto debaixo de um calor de 40° suando muito onde temos de beber agua toda hora.
Ao meio da tarde voltamos para Dakar para podermos pegar o Miguel na escola e voltar para casa. No final do dia fomos a Igreja Coreana jantar e depois tivemos na oração que e feita de 15 em 15 dias sempre as segundas-feiras, foi uma experiencia muito boa tanto espiritual como cultural onde Paulo deu seu testemunho do lago rosa e informou o ponto de situação do mesmo, foram um povo muito acolhedor só foi pena o Pastor Lee não estar presente porque estava para a Coreia em serviço da igreja. Depois de um bom banho que e das poucas coisas onde se economiza aqui em Dakar, pois com este calor ninguém se lembra de pedir uma banho com agua quente claro.
5º Dia Eu e o Missionário Paulo levantamos cedo e fomos os 2 para o lago rosa para podermos adiantar o serviço antes da hora do grande calor e deu para adiantar bastante, conseguimos terminar o telhado, colocar as janelas e as portas, isto com a ajuda do nosso amigo Alyjuma um habitante do village, com quem aprendi algumas coisas sobre o village e também me contou um pouco sobre a sua historia de vida e dava para perceber que é um povo com muita luta pela sobrevivência que o pouco que ganham mal da para comer e por vezes se vem obrigados e imigrar para poder sustentar a sua família, alyjuma já estivera preso em Marrocos por pescar ilegalmente já esteve na Gâmbia a trabalhar também como pescador e também na Guiné-Bissau, algo de que não se arrepende pois era necessário para sua subserviência. O bom foi seu pai que lhe havia informado de que Paulo poderia construir uma igreja no village porque isso iria trazer crescimento e não se importava com a entrada de outra religião no village porque cada um tem de ter direito de escolha o que por si já é um passo muito grande para a missão o que muitos não vêem é o trabalhar de Deus nas mentes dos líderes do village que pouco a pouco (dunca, dunca como eles dizem), vai-se abrindo para o Evangelho. No fim do dia já se podia dizer que já dava para podermos passar o fim-de-semana lá. Voltamos a Dakar já era noite e ao chegar o pessoal já estava pronto para sair, foi só tomar um banho e fomos relaxar para comer uma pizza.
6º Dia tiramos o dia de folga e fomos visitar os Missionários Celso e Andreia que residem em Popenguine passamos no village onde trabalham como missionários num posto de saúde pequeno e conhecemos o chefe do village, de seguida fomos para casa dos missionários onde passamos uma bela tarde de praia e ouvimos algumas experiencias por eles passadas aqui no Senegal, a agua estava muito quente e devido a pesca de barcos alguns peixes já mortos 
davam a costa mas não ficavam ali muito tempo porque as crianças andavam sempre para cima e para baixo a apanhar o peixe morto para servir de refeição mais logo e triste mas para alguns deles e para já o único meio de sobrevivência, andavam alguns vendedores a vender chifres de boi trabalhados e pintados a mão muito bonitos e também muito caros mas tudo aqui no Senegal tem de ser negociado por isso fiz a minha oferta e ele começou a dizer que não e ao fim de uns bons 40 minutos lá aceitou, o táxi aqui também é assim não tem taxímetro e todo o trajecto para onde forem tem de ser negociado, por vezes demora mais a negociação do que o tempo que levamos a chegar ao destino (rsrsrsr). Em fim foi um belo dia em popenguine e estamos muito agradecidos pela hospitalidade dos nossos irmãos Celso e Andreia
Dia mais um dia de trabalho no lago rosa para mim e pró missionário Paulo fizemos as tubulações das casas de banho e cimentamos as mesmas, levantamos o poço para podermos colocar a bomba de agua sempre com a ajuda do nosso grande amigo Alyjuma que anseia pela vinda dos missionários de vez para o lago rosa afinal de contas o terreno onde esta sendo construída a casa é dele e esta ansioso para poder começar a plantar no terreno que esta sendo preparado. Regressamos a Dakar exaustos depois de muito trânsito que hoje demorou muito mais do que o normal!
8º, 9º e 10º dia foram todos passados no lago rosa em contacto directo com a natureza, levantamos cedo para carregar o carro em Dakar e no caminho apanhamos chuva o que nos atrasou um pouco, tivemos de andar a procura de plástico para cobrir as nossas coisas da chuva, quando chegamos a estrada
 de terra estava um terror devido a chuva, acho que se tivéssemos um barco ia dar mais jeito (!), mas com 4x4 da sempre jeito, ao chegar ao village acabamos alguns pormenores que faltavam na casa, colocamos a bomba a funcionar no poço é bom lembrar que a bomba é manual porque no village não tem luz e levantamos as paredes para colocar a porta de entrada. A noite chegou muito rápido e fomos dormir mais cedo do que normal ainda eram 20H e já estávamos todos na cama é o que da não haver luz a única disponível é a vela e algumas lanternas, mas televisão, computador e esse tipo de coisas que normalmente fazemos e para esquecer neste lugar tranquilo onde durante a noite da para ouvir os grilos e som das ondas do mar que é ali mesmo ao lado. As 6h00 da manha eu e o Paulo já estávamos a colocar a porta para aproveitar a hora do fresco para terminar tudo e poder conhecer melhor o village na hora do calor. Da parte da tarde fomos dar uma volta pelas dunas que são incríveis e do nada por dentro de dunas e arvores deparamos com uma paisagem maravilhosa de uma praia sem fim, deserta com agua quente em mar aberto andamos pela praia de carro e depois paramos para dar um mergulho é algo fora do normal esta agua e como pode estar uma praia assim tão deserta. No regresso Paulo nos mostrou o monte a paisagem de lá de cima é incrível dá para ver o lago o mar e o village é uma mistura na natureza inigualável no resto do mundo, pois em tão curto espaço temos uma das maiores reservas de sal do planeta que é o Lago Rosa a um pouco mais de um quilómetro temos o oceano atlântico mas se no meio abrirmos um poço a água é doce! É incrível como Deus faz as coisas se não fosse assim era impossível o povo do village viver ali porque não tem luz nem agua encanada o que faz com que dependam muito dos poços de água doce. Ao chegar a casa já era praticamente noite e começava a chover, foi só tomar um banho de caneco comer e deitar. No domingo levantamos e fomos para o monte para fazer o culto de domingo, foi uma bênção louvamos ao Senhor e fizemos Santa Ceia, foi o primeiro de muitos cultos que ali se iram fazer, Deus resplandece o seu poder a todo o momento neste lugar o que era apenas um sonho dos missionários a uns meses atrás hoje se torna realidade para honra e glória do Seu Santo nome, tudo o que vimos aqui no Lago e tudo o que vivemos nestes dias tem sido maravilhoso por mais palavras que procure para as descrever jamais acharei alguma que posso descrever aquilo por que passamos aqui. Voltamos a casa e arrumamos as coisas para nosso regresso a Dakar que foi feito de baixo de chuva, no caminho a lembrança de três dias maravilhosos abstraídos de tudo sem telemóvel, televisão e stress tudo perfeito para um "particular" com Deus algo que o cristão de hoje em dia necessita, incluindo eu.

11º Dia deixamos para recarregar energias em casa falar com a família e "matar" saudades do pastel brasileiro, demos só uma saída para ir ao mercado comprar os ingredientes para fazer o pastel e o bolo que a irmã Lea queria fazer, foi um dia calmo com muito descanso o pastel estava demorando para sair mas com a ajuda da Luci lá saiu.
12º Dia levantamos cedo e passear por Dakar para ver de longe Gore uma ilha de onde saiam os escravos a muitos anos atrás visitamos alguns shoppings e vimos que Dakar não é tão pobre assim, e que tem alguma semelhança com o Brasil onde temos uma diferença abismal entre classes sociais, no Senegal parece sol haver 3 classes sociais que são muito pobres, pobres e milionários. Voltamos a casa para almoçar e começar a trabalhar da parte da tarde, limpamos o terraço onde é feita a oficina e carregamos a carrinha com os restos de madeiras para depois levar para o Lago Rosa no dia seguinte. Á noite o jantar há muito esperado conhecemos o Pastor Lee que é muito simpático e aberto socialmente foi muito bom falamos de vários temas onde explicou como é o evangelho na Coreia do Sul e como é praticado na Coreia do Norte.


13º Dia, levantamos cedo e fomos em direcção ao Logo Rosa juntos com o Pastor Lee que queria ir lá para orar na terra que foi cedida para a casa dos missionários e pela futura igreja. Ao chegar bebemos um cafezinho e falou-se a cerca dos vários projectos que estão sendo feitos na aldeia e dos que ainda estão por vir, e fomos orar por todo o terreno, passamos pela igreja no alto do monte e também oramos para que Deus continue a dar avivamento neste lugar, de regresso para o almoço foi tranquilo com muito pouco transito e depois fomos ao centro de Dakar para comprar umas lembranças para levar para Portugal e visitar a tão famosa e polémica estatua de Dakar que aparece quase pelada o que não é normal para um pais dito muçulmano estatua essa que representa a liberdade das nações africanas.

14º Dia - era o dia das despedidas, estávamos de regresso a Portugal depois de 15 dias maravilhosos, com muita tristeza mas ao mesmo tempo felizes por ter conseguido realizar este projecto que decorreu melhor do que estávamos a espera. Quando chegamos trouxemos muitas malas cheias de material de enfermagem e de marcenaria mas nunca imaginamos que a “bagagem” que estávamos trazendo fosse enorme, Deus me ensinou muito neste lugar tanto espiritualmente como a darmos mais valor a tudo aquilo que vem nas nossas mãos como um simples pedaço de pão ou um copo de agua, por isso, primeiramente quero agradecer a Deus por esta experiencia maravilhosa e por Ele ter estado sempre do nosso lado, para poderem ter uma ideia nem eu nem a Lea nem a Filipa pegamos qualquer tipo de doença ou as famosas disenterias, e em segundo lugar a família Souza por nos ter aberto a porta para assim podermos ter esta experiência, muito obrigado por tudo e que Deus vos continue abençoando cada vez mais e um até breve.

Agora um conselho para todos aqueles que lerem o meu pequeno diário: Nunca desista dos seus sonhos ou dos seus projectos lute por eles porque sempre que fazemos algo para Deus sempre vai haver alguém que se levante contra mas Deus é contigo, mas para isso te digo busque, busque, busque e quando acha que já buscou tudo, busque um pouco mais porque Ele vai-te abrir as portas. Se quiser ter uma experiencia missionária como eu tive não hesite e vai em frente mesmo que não tenha condições Deus provera.

Aos que tem chamado: pé na estrada!
Aos que tem dinheiro: contribuam!
Aos que amam a Deus: intercedam!
 António Costa.

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Jan 2016